Relatório parcial de pesquisa
Arquitetura da Habitação Popular:
alguns estudos de casos sobres os
modos de morar
Orientadora: Raquel Rodrigues Lima
Aluna: Angela Cristiane Fagundes
Bolsista BPA/PUCRS
Introdução
Novos modos de morar modernos surgem no século XX, em diferentes fases
e níveis de desenvolvimento, com características gerais e, ao mesmo tempo, específicas
com relação às diferentes realidades culturais, sociais, econômicas e
políticas. O presente trabalho faz parte de uma pesquisa mais ampla, possui
como objeto de estudo a habitação popular produzida no Brasil com qualidades
arquitetônicas visíveis, entre o período de 1945 e 1960. A pesquisa tem como
objetivo geral estudar aportes teóricos e sistematizar análises de estudos de
casos de edifícios de habitação popular produzida no Brasil, que possam ser
utilizados como possíveis referenciais para novos projetos. A partir da
identificação de alguns projetos significativos, serão apresentados os estudos,
seguidos de uma matriz de análise, dos seguintes projetos: 1) Oscar Niemeyer
para o Conjunto Governador Juscelino Kubitschek, em Belo Horizonte, Minas
Gerais; 2) Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho), Rio de
Janeiro; 3) Conjunto Residencial Marques de São Vicente (Residencial da Gávea),
Rio de Janeiro; 4) Edifício Copan, São Paulo; 5) Edifício Holiday, Recife; 6)
Conjunto Residencial Passo d’ Areia, Porto Alegre.
Objetivos da pesquisa
Objetivo geral:
Estimular a busca de alternativas para a produção de habitação de
interesse social nos dias de hoje.
Objetivos específicos:
Estudar aportes teóricos sobre o tema da Arquitetura da Habitação
Popular, produzidas no Brasil;
Selecionar e investigar estudos de casos da Arquitetura da Habitação
Popular Brasileira;
Sistematizar diretrizes projetuais apropriadas às análises e estudos
desenvolvidos.
Metodologia
A pesquisa segue os critérios de um trabalho teórico, conforme o
seguinte procedimento metodológico: a) pesquisa bibliográfica em livros,
revistas e ambiente virtual; b) seleção de projetos de habitação popular, no
período entre 1945 a 1960; c) organização do material referente a cada exemplar
através de fichas de catalogação de projetos arquitetônicos e urbanísticos e
imagens fotográficas; d) análise arquitetônica por meio de uma matriz de
análise com o foco de identificar os modos de morar por meio do contexto
histórico, da implantação dos projetos em lotes urbanos, da funcionalidade das
edificações e das características formais, compositivas e de caráter.
Levantamento de dados e estudos
de casos por meio de análise arquitetônica de exemplares da arquitetura da
Habitação Popular, produzida no Brasil, nos anos de 1950 e décadas seguintes do
século XX.
Panorama da Habitação
Popular Brasileira no século XX
No final do século XIX as atividades urbanas se intensificam nos
grandes centros. A chegada de imigrantes causa a expansão descontrolada da
malha urbana. A habitação é precária, insalubres.
Condições de meio, topografia e saneamento, favorecem a proliferação
de epidemias, fato determinante para uma intervenção higienista.
O governo estimula a iniciativa privada a atender a demanda no setor
imobiliário, através de incentivos ficais; trazendo as casas rentistas.
A partir de 1930 começa a consolidar uma nova abordagem sobre o tema
habitação social, sendo entendida como multidisciplinar, ou seja, compreendia
os seguintes campos: sociologia, política, filosofia, economia, engenharia e
arquitetura.
O poder público procura fortalecer os órgãos governamentais tais como:
Fundação da Casa Popular, Carteiras Prediais dos Institutos de Aposentadoria e Pensão
e Departamento de Habitação.
A partir desse momento surgem diversas implantações de projetos de
grande porte. Com números de unidades habitacionais acima de 2000 unidades, num
cenário onde o máximo era de 200 habitações.
Projetos brasileiros tem visibilidade internacional, como é o caso do
Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, vulgarmente conhecido como
Pedregulho. Iniciativa essa proveniente do poder público.
Exemplo da iniciativa privada: Conjunto Governador Jucelino
Kubitschek, Belo Horizonte.
Conceitos
Habitação Popular: Habitação popular ou Habitação de Interesse Social
são as edificações financiadas ou estimuladas pelo governo a fim de atender a
demanda de moradia às classes de “baixa renda”.
Modos de Morar Moderno: A Arquitetura Moderna na habitação contribuiu para a
renovação das tipologias de projetos, processo construtivo, implantação
urbanística, programas habitacionais e modos de morar; As propostas
urbanísticas seguiam tendências de Ebenezer Howard com a Cidade Jardim; e de Le
Corbusier, com a Unidade de Habitação de Marselha. Seguindo as recomendações do
2º CIAM, (1929, Alemanha, Unidade de Habitação Mínima) valorizava-se a célula
da moradia e os equipamentos coletivos, ou seja, funções domésticas
transferidas aos equipamentos sociais e comunitários: lavanderias coletivas,
creches, salas de reuniões, etc.
“A habitação
tornava-se a parte mais importante da cidade, inseparável dos espaços de recreação
e demais equipamentos como assistência médica, ensino, comércio, transporte.
[...] forjavam maneiras de convivência entre seus habitantes: do controle da
célula habitacional às áreas livres. [...] O projeto desses espaços buscava
ordenar as relações sociais, a vida comunitária, afetando o sentido de
privacidade e coletividade de seus moradores.“ (SEGAWA, 2010, p. 121)
“Morar num
edifício de apartamentos parecia significar participar desse vertiginoso e
crescente progresso, enfim ter um estilo de vida metropolitano, o que se
colocava implicitamente como um fator de status social [...] A nova forma de
habitar era também vista como restritiva a imaginação e empobrecedora das
experiências existenciais e simbólicas do espaço, principalmente para as crianças.”
(PASSOS, 1998, p. 25)
“A Máquina de
Morar, um dos maiores slogans do Movimento Moderno, é a célula habitacional
tratada como mais um elemento utilitário dos tempos da produção em massa;
enquanto a unidade de habitação é o conceito que incorpora a repetição de
células habitacionais em um só bloco com várias funções auxiliares, como
playground, cinema, lojas, padaria, etc.” (TEXEIRA, 1998, p. 210)
Arquiteto:
Oscar Niemeyer
Cliente:
Governo do Estado de Minas Gerais
Cálculo
estrutural: Joaquim Cardoso
Incorporador:
Joaquim Rolla
Fonte: Angela Fagundes
Belo Horizonte
Belo Horizonte torna-se a capital do estado de Minas Gerais a partir
de 1897, tomando o lugar de Ouro Preto, que perde seu posto em virtude de suas
ruelas estreitas e insalubres por falta de ventilação e circulação adequada.
Belo Horizonte assume o lugar após longa pesquisa do engenheiro Aarão Reis, que
visitou diversos locais do estado em busca do lugar ideal. A capital planejada
sofre influências do urbanismo da Paris de Hausmann, com seu traçado regular e
forma de malha ortogonal, facilitando a higiene bem como rotas militares.
“Em 1897
inaugura-se Belo Horizonte, com pouca arquitetura, pouca matéria prima que
pudesse ser aproveitada como símbolo da cidade.” (TEIXEIRA, 1998, p. 28)
“Aarão Reis,
engenheiro, administrador, ardoroso fã da cidade de Washington, da Paris de
Hausmann e do esquadro de 45°, trabalharia com todo calculismo necessário para
erguer uma cidade moderna e com absoluta confiança no poder da engenharia.”
(TEIXEIRA, 1998, p. 65)
Praça Raul Soares
A praça está
situada na confluência de quatro importantes avenidas: Olegário Maciel, Augusto
de Lima, Amazonas e Bias Fortes. A praça recebe esse nome em homenagem ao
ex-presidente de Minas Gerais, Raul Soares de Moura. A Praça Raul Soares é uma
rótula. É uma das principais praças de Belo Horizonte construída em estilo
francês e é tombada pelo IEPHA. Além do CGJK, no entrono imediato à praça
também está localizado o Mercado Central.
Fonte: Google Maps
Fonte Angela Fagundes
Conjunto Governador Jucelino Kubitschek
O Conjunto incorporava
a utopia moderna de modificação do modo de vida da sociedade. Destacava-se por
ser uma edificação de grande porte – a mais alta da cidade – e com um programa
complexo e inédito em Belo Horizonte. O projeto de Niemeyer derivou-se da Unité
d’Habitation, em Marselha, formulada por Le Corbusier, embora tenha sido
construído na zona central em processo de verticalização.
Fonte: Angela Fagundes
Fonte: Angela Fagundes
Implantação
Um edifício
dividido em dois blocos de 23 e 36 andares. A implantação é feita de modo que
os equipamentos coletivos estão dispostos nos primeiros pavimentos. Ocupa toda
extensão do quarteirão. (120 metros, máximo de quarteirão de Aarão).
Previam-se
repartições públicas estaduais, estação rodoviária, mercado municipal, museu de
arte moderna, bem como restaurantes, boate, lojas, hotel, praças de esportes e
jardins. Estas características trazem ares de modernidade ao conjunto. Morar
num edifício com museu, com teatro, cinema era muito moderno.
Sendo composto
por oito tipologias de plantas. Desde a o módulo de apenas um quarto (de hotel)
até o apartamento de cinco módulos, ou seja, de três quartos.
A ligação entre
os blocos dá-se através de uma passarela acima do nível da rua.
Fonte: MACEDO, 2008 P. 445
Planta baixa
Os apartamentos
foram distribuídos em fita, ao longo de um extenso corredor central, semelhante
à rua interna da Unité d’Habitation de Marseille;
Fonte: MACEDO, 2008, P.457
A circulação fortemente marcada: Rua interna;
Vertical: demarcada em planta.
Fonte: MACEDO, 2008, P.456
Fonte: MACEDO, 2008, P.446
Fachada
Fonte: Angela Fagundes
A fachada é
definida através de módulos, sendo à base de 3,16m de largura o que definirá os
tamanhos dos apartamentos.
Fonte: MACEDO, 2008, P.449
Unidades habitacionais
Podemos observar
a máquina de morar nessas tipologias, os apartamentos pequenos com espaços
mínimos para suas funções. Nos quartos sem cozinha, ou sem área de serviço, já
que estariam à disposição os equipamentos coletivos. A própria quantidade e modelos
de tipologias são com esse caráter do modernismo.
Fonte: MACEDO, 2008, P.448
Há cinco tipos de
plantas de apartamentos:
Apartamento Tipo
1: quarto de hotel sem copa (1 módulo), ocupa os três primeiros pavimentos do
Bloco A.
Apartamento Tipo
2: quarto e sala com banho e espaço para geladeira (2 módulos).
Apartamento Tipo
3: dois quartos, sala, banheiro e
cozinha (3 módulos).
Apartamento Tipo
4: dois quartos, sala, banheiro, cozinha , área de serviço e dependência de
empregada (4 módulos) .
Apartamento Tipo
5: três quartos, sala, banheiro,
cozinha, área de serviço e dependência de empregada (5 módulos).
400 apartamentos
Aqui há os outros
três tipos de apartamento:
Fonte: MACEDO, 2008, P.248
Apartamento Tipo
A: semi – duplex dividido em dois meios níveis com sala e cozinha junto à
entrada, e quarto e banheiro acima.
Fonte: MACEDO, 2008, P.443
Apartamento Tipo
B: praticamente um quarto de hotel, com uma pequeníssima copa de corrente da
conciliação em corte entre o desnível do Tipo A.
Apartamento Tipo
C: quarto de hotel, (13,9m²), sem copa, que ficava nos andares alternados, no
mesmo nível de entrada do apartamento Tipo A.
Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho)
Endereço: Rua Capitão Félix, 50, Morro do Pedregulho, São Cristóvão, Rio de Janeiro
Cliente: Departamento de Habitação Popular do Distrito Federal
Equipe: Affonso Eduardo Reidy, Carmen Portinho, Roberto Burle Marx, Candido Portinari;
Projeto de 1946, entregue em 1958.
Fonte: Fonte: BONDUKI, 2002, p. 90
Rio de Janeiro
Com o declínio do
trabalho escravo, a cidade passara a receber grandes contingentes de imigrantes
europeus e de ex-escravos, atraídos pelas oportunidades que ali se abriam ao
trabalho assalariado. Entre 1872 e 1890, sua população duplicou, passando de
274 mil para 522 mil habitantes.
O aumento da
pobreza agravou a crise habitacional, traço constante na vida urbana do Rio,
desde meados do século XIX. O epicentro dessa crise era ainda, e cada vez mais,
o miolo central – a Cidade Velha e suas adjacências –, onde se multiplicavam as
habitações coletivas e eclodiam as violentas epidemias de febre amarela,
varíola, cólera-morbo, que conferiam à cidade fama internacional de porto sujo.
Conjunto Residencial Prefeito Mendes
de Moraes (Pedregulho)
O Conjunto
Habitacional Prefeito Mendes de Moraes, vulgarmente conhecido como Pedregulho é
umas das mais importantes obras brasileiras de habitação coletiva do
Modernismo. Este elaborado projeto teve como autor o conceituadíssimo arquiteto
Affonso Eduardo Reidy, sua companheira a Engenheira Carmen Portinho, painéis de
Candido Portinari e Paisagismo de Roberto Burle Marx. Esta obra teve
visibilidade internacional, sendo elogiada até por Le Corbusier em sua visita
ao Brasil.
Na intensão de
buscar exatamente o que a população necessitava, o projeto foi baseado em
minucioso levantamento através de diversos técnicos, entre eles assistentes
sociais. O objetivo era de estabelecer um novo modo de morar em parceria com
seus futuros habitantes. Desta maneira são previstos diversos equipamentos
complementares para atender tais necessidades, sob o ponto de vista de que
função habitar não se resume na vida dentro de casa.
É um conjunto
habitacional vertical dotado de complexo plano urbanístico, contando com
espaços de lazer, conveniência e serviços, tais como: Jardim-de-infância,
Maternal, Berçário, Escola Primária, Posto de Saúde, Ginásio Esportivo,
Lavanderias Coletivas, Igreja, Piscina, Centro Sanitário.
É constituído por
sete edifícios: três residenciais, quatro de serviço e áreas de lazer e
piscina. O edifício principal possui 260 metros de extensão (272 unidades) e
conta com um programa de apartamentos dotado diferentes tipologias, este é o
“edifício serpenteante”.
Utiliza técnicas de engenharia avançadas para a
época.
Fonte: Fonte: BONDUKI, 2002, p. 89
Implantação
O terreno destinado a esse fim, com área de 52. 142m², com a taxa de
ocupação de 17,3%. está situado na encosta oeste do morro do Pedregulho, sobre
o qual se acham localizados os reservatórios de distribuição de água da cidade.
Sua configuração é irregular e a topografia muito acidentada, apresentando uma
variação de nível de 50 metros.
Fonte:
BONDUKI, 2002, p. 85
Fonte: BONDUKI, 2002, p. 90
Planta Baixa
Três blocos de apartamentos sendo:
Bloco A - 7 pavimentos, 260
m de extensão, localizado a meia encosta, 272 apartamentos e pavimento
intermediário de uso comum; Apartamentos de apenas uma peça até apartamentos de
quatro dormitórios, inclusive duplex. A grande inovação neste bloco fica por
conta do pavimento intermediário parcialmente livre, sugerido para crianças
brincarem em dias chuvosos ou ainda em horário de insolação intensa. E também
por conta da circulação ser externa, arejada e iluminada naturalmente,
favorecendo inclusive a ventilação e iluminação do interior dos apartamentos.
Fonte:
BONDUKI, 2002, p. 91
Fonte:
BONDUKI, 2002, p. 90
Fonte:
BONDUKI, 2002, p. 92
Blocos B1 e B2 - 80 m de
extensão, com 56 unidades habitacionais cada; Apartamentos duplex de dois, três
e quatro dormitórios;
Fonte:
BONDUKI, 2002, p. 94
Escola Municipal
É o mais importante equipamento do conjunto. Com capacidade para
atender 200 alunos, dispõe de cinco salas de aulas para atender 40 alunos cada,
biblioteca, sala de estar, administração, vestiário e instalações sanitárias,
além do possui ginásio de esportes e piscina olímpica. O bloco das aulas é
sobre pilotis, proporcionando local coberto um dos maiores ícones das
edificações modernistas.
Fonte:
BONDUKI, 2002, p. 97
Fonte:
BONDUKI, 2002, p. 97
Fonte:
BONDUKI, 2002, p. 96
Posto de saúde
(atualmente encontra-se fechado em virtude do estado de conservação
precário);
Fonte:
BONDUKI, 2002, p. 101
Cooperativa/lavanderia
(atualmente desativados - estados de conservação precários).
Fonte:
BONDUKI, 2002, p. 102
Conjunto Residencial Marquês de São Vicente (Minhocão da Gávea)
Endereço:
Rio de Janeiro
Cliente: Departamento de Habitação Popular do Distrito Federal
Equipe: Affonso Eduardo Reidy, Carmen Portinho
Projeto de 1952
Fonte: BONDUKI, 2002,
p. 112
O Conjunto
Residencial Marques de São Vicente, conhecido popularmente como Minhocão da
Gávea é uma importante obra da habitação popular do século XX. Foi planejado
para substituir uma favela existente no local, com aproximadamente 955
barracões, abrigando pessoas em condições de higiene e conforto precários. Já
estavam em carácter provisório, até que a municipalidade promove a construção
do conjunto.
O conjunto
sofreu diversas alterações de seu projeto inicial, inclusive tendo seu programa
suprimido e alterado. Assim como no Conjunto Residencial Prefeito Mendes de
Moraes, estava previsto escola, mercado e os demais blocos. E ainda tem o caso
do túnel e da autoestrada que não estava previsto para aquele local. Todas as
outras unidades de apoio foram descartadas ou adaptadas para a nova situação da
Avenida Lagoa-Barra. O arquiteto havia projetado a autoestrada em outra
localização, porém não foi acatada a sugestão pelo poder público.
Segundo
Carmen Portinho a insatisfação e discordância diante da execução e alteração
deste projeto, tanto de sua parte, quanto de Reidy, lhes renderam as suas
aposentadorias.
Implantação
Fonte:
BONDUKI, 2002, p. 107
O projeto original previa a construção de 748 apartamentos, creche,
escola primária e secundária, playground, mercado, lavanderia, posto de saúde,
igreja, teatro, campos de esportes, administração e um departamento de serviço
social. Só o bloco principal, as lavanderias e o posto de saúde efetivamente
foram construídos. Não foram construídos os demais sete blocos. O campo de
futebol e o ginásio usado como salão de festas foram doados por uma ex-vizinha,
que morava no luxuoso condomínio ao lado.
Fonte: http://www.rioquepassou.com.br/andredecourt/wp-content/imagens/1096894028_f.jpg
Planta Baixa
Fonte: BONDUKI, 2002, p. 110
Atualmente são 308 apartamentos,
cerca de 1500 moradores, seis porteiros e não possui elevadores. Nos primeiros
andares ficam pequenos apartamentos com sala, banheiro e uma pia instalada que
se passa por cozinha. Variam de 25m² a 30m². Os duplex, instalados no quarto e
no sexto andares, medem em torno de 45m².
Fachada
Fonte: BONDUKI, 2002, p. 110
Na fachada podemos perceber o
pavimento intermediário para lazer, típico de Reidy, típico do Modernismo.
Fonte: Google Maps
Edifício Copan
Endereço: Av. Ipiranga, 200 - São Paulo
Arquiteto: Oscar Niemeyer
Proprietário: Cia. Panamericana de Hotéis e Turismo e Banco Nacional Imobiliário
Projeto de 1951, entregue em 1971
Fonte: BOTEY, 1996,
P.66
São Paulo
São Paulo surgiu como missão jesuítica, em 25 de janeiro de 1554,
reunindo em seus primeiros territórios habitantes de origem tanto europeia
quanto indígena. A característica comercial e de composição heterogênea vai
acompanhar a cidade em toda a sua história, e atingirá o seu ápice após o
crescimento demográfico e econômico advindo do ciclo do café e da
industrialização, que elevariam São Paulo ao posto de maior cidade do país.
Após a abolição da escravatura em 1888 a cidade é tomada por
imigrantes oriundos em sua grande maioria da Europa, causando um aumento
demográfico no qual a infraestrutura urbana da cidade não acompanhou. Neste
tempo surgem os aglomerados de população nos insalubres cortiços e por
consequência surgem também as pestes. No início do século XX a reorganização da
composição urbana passa a ser de necessidade e intervenção sanitária. Nesse
momento surgem os primeiros conjuntos habitacionais, sejam eles, em primeiro
momento, horizontais, até que por fim, surgem os conjuntos verticais,
estabelecendo novos modos de morar, já que a população era contrária a habitar
em apartamentos.
O Edifício Copan está localizado em uma avenida muito tradicional em
São Paulo, a Avenida Ipiranga.
Edifício Copan
O Edifício Copan é uma importante obra, tanto plena sua influência na
cidade de São Paulo, quanto pela representatividade na Arquitetura Moderna
Brasileira. A sua forma sinuosa destaca-se na Avenida Ipiranga trazendo uma
característica peculiar a sua fachada ou mesmo em planta, quando vista de cima
(cabe salientar que São Paulo é a segunda cidade em número de helicópteros do
mundo, perdendo apenas para Nova York).
Traz na sua concepção a unidade de habitação vertical proposta por Le
Corbusier, esse mesmo conceito já havia sido aplicado pelo próprio Niemeyer no
Conjunto JK em Belo Horizonte.
Da mesma forma que o Conjunto JK, o Copan sofreu diversas alterações
no seu projeto original e também levou vários anos para ficar habitável.
O edifício foi encomendado para o IV Centenário da cidade (que viria a
ser comemorado em 1954). A ideia era inspirada no Rockefeller Center, de Nova
York, condomínio que unia um grande centro comercial e de lazer a residências.
O edifício Copan seria a imagem da "São Paulo moderna". Oscar
Niemeyer desinteressou-se pelo trabalho quando suas ideias iniciais não foram
totalmente atendidas e acabou delegando a Carlos Lemos o desenvolvimento do
projeto de execução.
Implantação
Em torno de 1220 apartamentos de diferentes tamanhos e programas
organizados em setores estanques, com ingressos e circulação vertical separado
uns dos outros, apesar da continuidade visual da grande lâmina onde estão
localizados. À moradia estavam associados hotel, serviço de lazer, comércio e
área livre presente em um amplo terraço jardim;
- Implantação na área central da cidade;
- Atenção voltada à função residencial;
Fonte: BOTEY,
1996, P.64
Fachada
Fonte: SAMPAIO, 2002, p. 162
Edifício Holiday
Endereço: Avenida Cons. Aguiar x Rua Salgueiro, Praia de Boa Viagem,
Recife
Arquiteto: Joaquim de Almeida Marques Rodrigues
Proprietário: Paulo Octavio de Lima
Projeto de 1957, entregue em 1959.
Fonte: SAMPAIO, 2002, P. 260
Quando Recife era chamada de Veneza brasileira e a praia de Boa Viagem
um paraíso tropical livre de tubarões, o Edifício Holiday era o máximo das
residências de verão da classe média pernambucana. Construído entre 1957 e 1959,
foi um dos primeiros arranha-céus da capital, junto com o Acaiaca e o
Califórnia – erguidos no mesmo bairro também no final da década de 1950. É um
marco na Arquitetura Modernista da cidade.
No entanto, a intenção do projeto do engenheiro Joaquim de Almeida
Marques Rodrigues desvirtuou as nobres intenções do empreendimento. O que era
para ser um local de veraneio e repouso familiar transformou-se num prostíbulo.
Hoje são 476 apartamentos (divididos em 317 kitchenettes, 65 quarto-e-salas
e 34 dois-quartos). Entre as quase 3 mil pessoas que ocupam os 17 andares do
prédio encontram-se famílias de baixa renda, artesãos e uma abundante população
de prostitutas e traficantes. Transformou-se em uma favela vertical no bairro
mais nobre de Recife.
Recife
Recife foi dominada e administrada pelos holandeses em meados do
século XVII, trazendo mais uma influência cultural para a cidade. Nesse período
de submissão aos holandeses o conde alemão Maurício de Nassau, desembarcou na
Nieuw Holland, a Nova Holanda, em 1637, acompanhado por uma equipe de
arquitetos e engenheiros. Nesse ponto começa a construção de Mauritsstad, que
foi dotada de pontes, diques e canais para vencer as condições geográficas
locais. O arquiteto Pieter Post foi o responsável pelo traçado da nova cidade e
de edifícios como o palácio de Freeburg, sede do poder de Nassau na Nova
Holanda, e do prédio do observatório astronômico, tido como o primeiro do Novo
Mundo.
Em 1710 Recife é denominada vila independente devido ao seu
desenvolvimento originado pelos mascates que chegavam a todo o momento e se
estabeleciam por lá.
O início do século XIX no Recife foi marcado por revoltas inspiradas
no ideário liberal vindo da Europa: comerciantes, aristocratas e padres, para
exigir mais autonomia para a colônia. Entretanto, a classe dominante evitava
questões como o fim da escravatura e dispensava a participação popular, temendo
revolução.
Nesse mesmo século, ocorreram as revoluções mais conhecidas da
História do Recife. A Revolução de 1817, a Confederação do Equador, de 1824 e a
Revolução Praieira, de 1848. O Recife deixou de ser vila, não se subordinava ao
poder central, nem estava subordinada a Olinda. Nesse tempo, iniciou-se um grande
período de desenvolvimento da cidade. A elevação à categoria de cidade ocorreu
em 1823.
No início do século XX, iniciou-se um período de agitação cultural e a
encantadora Belle Époque mostrou a busca de novas linguagens para traduzir as
velozes mudanças trazidas pelas novas técnicas.
Implantação
Trata-se um grande bloco semicircular,
implantado no centro de um lote trapezoidal de esquina. Localizado em área
pouco consolidada da cidade de então, ocupada quase exclusivamente por
veranistas, propunha vários serviços que viabilizaram a moradia permanente de
famílias na área. Estavam previstos, em edifícios anexos ao corpo do bloco
principal, um centro de abastecimento e uma área para restaurante. No térreo,
ocupando os espaços entre os pilotis, localizavam-se as lojas e o acesso aos
apartamentos. Os três volumes se interligavam, ainda, por uma longa marquise.
Fonte: Google
Maps
Fonte:
SAMPAIO, 2002, P. 260
Planta Baixa
Ao longo de 17 pavimentos, distribuem-se 28 unidades por pavimento,
totalizando 476 apartamentos, sendo de três tipologias: kitchenettes, quarto e
sala ou dois dormitórios.
Fonte: SAMPAIO, 2002, P. 262
Conjunto Residencial Passo d’Areia
Endereço: Porto Alegre
Proprietário: IAPI
Equipe: Marcus Kruter e Edmundo Gardolinski;
Projeto de 1946.
A data oficial de fundação da cidade de Porto Alegre é 26 de março de
1772 com a criação da Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais, um ano
depois alterada para Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre. O
povoamento, contudo, começou em 1752, com a chegada de 60 casais portugueses
açorianos trazidos por meio do Tratado de Madri para se instalarem nas Missões,
região do Noroeste do Estado que estava sendo entregue ao governo português em
troca da Colônia de Sacramento, nas margens do Rio da Prata. A demarcação
dessas terras demorou e os açorianos permaneceram no então chamado Porto de
Viamão, primeira denominação de Porto Alegre.
Em 24 de julho de 1773, Porto Alegre se tornou a capital da capitania,
com a instalação oficial do governo de José Marcelino de Figueiredo. A partir
de 1824, passou a receber imigrantes de todo o mundo, em particular alemães,
italianos, espanhóis, africanos, poloneses, judeus e libaneses.
Em 20 de setembro de 1835, como resultado da insatisfação econômica e
política, e culminando uma série desentendimentos com o governo central,
irrompeu na cidade uma revolta que acabou por tomar um cunho republicano e
separatista, a Revolução Farroupilha.
Com o fim da Guerra dos Farrapos,
a cidade retomou seu desenvolvimento e passa por uma forte reestruturação
urbana nas últimas décadas do século XVIII, movida principalmente pelo rápido
crescimento das atividades portuárias e dos estaleiros. O desenvolvimento foi
contínuo ao longo do tempo e a cidade se manteve no centro dos acontecimentos
culturais, políticos e sociais do país como terra de grandes escritores,
intelectuais, artistas, políticos e acontecimentos que marcaram a história do
Brasil.
Conjunto Residencial Passo d’Areia
A área consiste em um conglomerado de prédios e de casas de
arquitetura peculiar e semelhante, construídos nas décadas de 1940 e 1950,
durante a gestão do prefeito Ildo Meneghetti para abrigar trabalhadores da
indústria. Seu nome tem origem no Instituto de Aposentadorias e Pensões dos
Industriários (IAPI), que financiou projetos de habitação popular em grandes
cidades do Brasil.
A Vila do IAPI foi planejada conforme a concepção urbanística de
cidade jardim, tendo sido o primeiro conjunto residencial do país. O seu
projeto previa 2.500 moradias, 31 lojas comerciais, um largo para mercado
público, onze praças e jardins, escola, postos de distribuição de leite, dentre
outros serviços. Foi inaugurado no ano de 1953, pelo então presidente da
República, Getúlio Vargas.
Foi na vila que surgiu a escola de samba União da Vila do IAPI, que
era um pequeno bloco que desfilava nas ruas do IAPI composto pelos seus
fundadores e pela comunidade.
A vila foi berço da cantora Elis Regina. Em
frente ao apartamento em que morou, situa-se o Largo Elis Regina, inaugurado em
2002, vinte anos após a morte da cantora.
Conclusão
A presente pesquisa foi de imensurável valor ao meu crescimento
acadêmico, profissional e influenciou inclusive na minha formação de opinião e
postura de cidadã.
Ao longo da pesquisa foi possível aprofundar meus conhecimentos em
relação à própria história do Brasil, seja ela geral ou política indo além do
campo da Arquitetura e Urbanismo.
Os edifícios analisados estão inseridos em diferentes Estados e regiões
brasileiras de forma intencional, para que pudessem ser avaliados nos
diferentes contextos, enriquecendo a pesquisa.
Percebe-se que os projetos eram de uma qualidade e complexidade que
não encontramos em muitos dos projetos dos tempos atuais. Antes dos projetos
serem iniciados, havia uma extensa pesquisa multidisciplinar para servir de
ponto de partida para o projeto.
Infelizmente no decorrer do processo, alguns itens eram corrompidos,
alterados ou subtraídos, de forma a favorecer questões políticas e pessoais.
Como disse Carmen Portinho “coisas nossas, bem nossas”, referindo-se às
corrupções do Governo Brasileiro (BONDUKI, 1999, p.112).
O Conjunto Marquês de São Vicente, o “Minhocão da Gávea”, no Rio de
Janeiro, sofreu a alteração de uma autoestrada cruzando o edifício, trazendo
poluição sonora, tremores no edifício e desprezo com seus moradores. Mais uma
vez a comunidade pobre perde para os interesses da sociedade elitista.
Em Recife, por ironia do destino, um dos melhores exemplares da
Arquitetura Moderna, veio a transformar-se em uma favela vertical muito mal
vista no bairro mais nobre da cidade.
O Edifício Copan, em São Paulo sofreu degradação por falta de
manutenção, assim como o Conjunto Prefeito Mendes de Moraes, o Pedregulho, no
Rio de Janeiro que já está com alguns blocos da sua infraestrutura
comprometidos de tal maneira que foram interditados.
A semelhança entre eles é além de pertencerem ao período do Modernismo,
a decadência que todos entraram em seguida.
Hoje em dia já está havendo um retorno, uma tentativa de resgate da
população e de alguns órgãos públicos e privados, associações de moradores,
enfim, pessoas interessadas e engajadas na revitalização dos conjuntos ou até
mesmo dos bairros. Ainda longe do ideal, já que tratamos de marcos do
modernismo, mas num mundo tão ávido pelo novo podemos enxergar tais iniciativas
como um começo.
Outra questão que foi observada foi ausência de diálogo com seus moradores,
desconsideração dos desejos e necessidades dos seus usuários. Os assistentes
sociais faziam os levantamentos de acordo com o número de ocupantes, bem como
das faixas etárias para dimensionamentos das escolas, por exemplo. Entretanto,
não foram avaliados aspectos culturais e regionais. O Modernismo tentava impor
seus modos de morar, com pretensões de transformar o cidadão em produtos
resultantes da Revolução Industrial, produzidos em série.
Este é mais um item sendo repetido nos dias de hoje. A produção atual
de Habitação de Interesse Social tem metas de ordem quantitativa,
desconsiderando mais uma vez a questão qualitativa, sem diálogo com o povo,
produzindo em massa projetos que se adaptam de norte a sul do país sem levar em
consideração nem as diferenças de orientação solar.
A esperança
concentra-se na sociedade que precisa organizar-se e pressionar poder púbico
exigindo que tais diálogos ocorram e principalmente na preservação da nossa
história. História de um tempo que a Arquitetura Brasileira era de tanta
qualidade que era referência mundial, elogiada por grandes mestres como Le
Corbusier.
Referenciais
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Wikipédia, Edifício JK.
Fevereiro de 2009
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